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Kung Fu - História - Pelo Sifu Paulo Neiva



Texto elaborado e cedido pelo Sifu Paulo Neiva

Co - Fundador da Fraternidade Marcial Portugal

Kung Fu

À semelhança do que acontece com o Karate, o Kung Fu está agrupado em estilos. Estes estilos são, por sua vez, separados em estilos internos (denominados de (nei jiā) e estilos externos (denominados de (wai jiā) ).

O que a maioria das pessoas associa com os estilos externos, são aqueles estilos rápidos e explosivos, com foco na força física e na agilidade.

O treino dos estilos externos normalmente iniciam com um treino de força muscular, velocidade e aplicação e, nos treinos avançados, depois que o nível físico desejado já tenha sido alcançado, integram conhecimentos de Chi Kung (Qi Gong). É o caso do estilo Hung Gar, um dos mais emblemáticos e praticados em todo o mundo, oriundo do templo de Shaolin de Fukien, no sul da China, e cujas características vou descrever sumariamente ao longo deste texto.

Hung Gar

Hung Gar (ou Hung Kuen) significa “Familia Hung” e tem as suas origens no séc. XVI. Desenvolvido durante a dinastia Ching, é um dos estilos pertencentes à escola dura (Wai Chia) e a sua criação é atribuída a Hung Hei Kung, aluno do monge Shaolin Ti Sin Sin, também conhecido como Chi Shin (Chee Sin).

O Hung Gar é um dos estilos mais completos do Kung Fu Tradicional. Não é particularmente acrobático, mas a sua técnica é muito Marcial, precisa e directa na sua aplicação, no qual se destacam as técnicas de braços (característica dos estilos do sul), sendo o reforço e desenvolvimento dos membros inferiores feito e desenvolvido através da prática das posições típicas do estilo.

Do ponto de vista físico, a prática do Hung Gar é esgotante. A realização das suas técnicas exige um elevado esforço físico, facto que o caracteriza como sendo um dos estilos mais duros e respeitados do sul da China. As suas formas (que correspondem ao Kata do Karate Japonês), caracterizam-se pela simetria, o que faz com que o aparelho locomotor se desenvolva adequada e equilibradamente.

O Hung Gar presta especial atenção a correcção e prevenção do movimento do ponto de vista ortopédico. A grande quantidade de técnicas presentes nas suas formas, faz com que seja uma arte muito difícil.

A divisa da da escola Hung Gar é bem elucidativa quanto ao valor técnico e marcial deste estilo de Kung Fu tradicional:

um estilo para homens fortes ou para aqueles que se querem tornar fortes”.

No Hung Gar (como em qualquer outro estilo de Kung Fu tradicional), o estudo e prática das formas é muito importante. Antigamente transmitia-se o estilo, de geração em geração, através das formas, facto que explica que nelas se encontrem a quase totalidade dos segredos técnicos da arte.

Uma análise dos conteúdos das formas revela-nos a bagagem técnica do estilo, assim como as estratégias de combate, os significados filosóficos dos movimentos, a simbologia do estilo, a dimensão médico-preventiva e terapêutica, bem como o aspecto energético e espiritual do estilo. Daí a grande importância acordada ao estudo e prática das formas.

Uma das principais características das formas do estilo Hung Gar é a sua extensão (algumas formas do estilo tem mais de 300 técnicas diferentes) e a simetria, o que faz com que o aparelho locomotor se desenvolva equilibradamente.

No Hung Gar encontramos formas cujo centro são as técnicas respiratórias e a emissão dos “famosos sons” ligados aos órgãos vitais, conforme os princípios da medicina tradicional Chinesa; outras, representam as técnicas de combate dos cinco animais e dos cinco elementos e, finalmente, outras que propõem um sofisticado trabalho energético (Chi Kung ou Qi Gong).

Para além das formas de punhos, o programa Hung Gar prevê também um estudo das armas tradicionais (pin hei), como por exemplo Wu Dip Tao (facas borboletas), Kwan Tao (alabarda), Cheong (lança), para nomear apenas algumas. Complementam as forma deste estilo, os exercícios a pares, sob a forma de combate predeterminado (denominados Kung Chia Fu Hok) e o uso de determinados elementos tradicionais como o boneco de madeira (Mok Yang Chong), assim como pesados anéis nos antebraços e o uso de diversos tipos de sacos para desenvolver as técnicas de braços.

Outros elementos tradicionais da escola Hung Gar, são a Dança do Leão (Mou Si) e a medicina tradicional, especializada em ortopedia.

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